As lesões ósseas, como as fracturas e as não uniões, apresentam desafios significativos tanto para os doentes como para os prestadores de cuidados de saúde. Embora a maioria das fracturas cicatrize dentro dos prazos esperados, complicações como a união tardia e a não união podem dificultar a recuperação, exigindo abordagens terapêuticas alternativas. A terapia por ondas de choque extracorporais (ESWT) tem ganho atenção pelo seu papel na promoção da regeneração e cicatrização óssea. Mas até que ponto é eficaz terapia por ondas de choque quando aplicado diretamente no osso?
Bones and Breakdowns: Porque é que a cura demora tanto tempo
A cicatrização óssea segue um processo biológico estruturado dividido em três fases-chave:
- Fase inflamatória (primeiros dias): Forma-se um hematoma à volta do local da fratura, atraindo células inflamatórias que libertam citocinas e factores de crescimento para iniciar a cicatrização.
- Fase reparadora (semanas a meses): As células estaminais mesenquimatosas diferenciam-se em osteoblastos, formando um calo que preenche a fratura. A vascularização desempenha um papel crucial nesta fase.
- Fase de remodelação (meses a anos): O calo amadurece e a resistência óssea é restaurada através da reabsorção osteoclástica e da formação óssea osteoblástica.
No entanto, vários factores podem perturbar este processo, levando a uma cicatrização lenta ou incompleta. Um fraco fornecimento de sangue, instabilidade mecânica, infeção e condições sistémicas como a diabetes ou a osteoporose aumentam o risco de fracturas não unidas. Os tratamentos tradicionais, incluindo o enxerto ósseo, a fixação interna e a estimulação eléctrica, oferecem soluções, mas implicam riscos cirúrgicos, longos períodos de recuperação e taxas de sucesso limitadas.
Terapia por ondas de choque: Apenas para os tecidos moles ou também para reforçar os ossos?
Inicialmente reconhecida pelo tratamento de tendinopatias e lesões dos tecidos moles, a ESWT tem vindo a ser explorada como uma terapia regenerativa para a cicatrização óssea. Este tratamento não invasivo fornece ondas de choque focalizadas ou radiais à área afetada, desencadeando respostas biológicas essenciais para a reparação de fracturas.
O mecanismo subjacente da ESWT na cicatrização óssea envolve:
- Angiogénese: As ondas de choque estimulam a produção do fator de crescimento endotelial (VEGF), promovendo a formação de novos vasos sanguíneos, o que é essencial para o fornecimento de nutrientes e oxigénio ao local da fratura.
- Osteogénese: A ESWT regula positivamente as proteínas morfogenéticas ósseas (BMPs), que induzem a diferenciação dos osteoblastos e aumentam a formação da matriz óssea.
- Mecanotransdução celular: Os estímulos mecânicos das ondas de choque activam os osteócitos e as células estaminais mesenquimatosas, desencadeando a remodelação e reparação óssea.
- Modulação da dor: A ESWT inibe as vias nociceptivas, reduzindo a perceção da dor, o que permite uma melhor mobilidade e melhores resultados de reabilitação.
Terapia por ondas de choque e reparação óssea: Onde é que se encontram?
Numerosos estudos clínicos apoiam a eficácia da ESWT na cicatrização óssea. A investigação indica que:
- Fracturas não consolidadas respondem bem à ESWT, com taxas de cura entre 70-85% em fracturas de ossos longos.
- Os ossos do metatarso demonstraram taxas de sucesso de até 90% com ESWT, enquanto as fracturas da tíbia demonstram cura em aproximadamente 75% dos casos.
- A intervenção precoce com ESWT melhora os resultados, uma vez que intervalos mais curtos entre a lesão e o tratamento estão correlacionados com taxas de sucesso mais elevadas.
- Estudos comparativos sugerem que a ESWT rivaliza com as intervenções cirúrgicas, oferecendo resultados de cura semelhantes com menos complicações.
Além disso, a ESWT é particularmente benéfica no tratamento de fracturas de stress, osteonecrose e condições como a necrose avascular, melhorando o fluxo sanguíneo localizado e estimulando a regeneração óssea.
Impacto direto: A terapia por ondas de choque pode ser utilizada no osso?
Sim, a ESWT é aplicada diretamente no osso em casos de não união da fratura, atraso na cicatrização e necrose óssea. As ondas acústicas criam microtraumas no tecido, dando início a uma cascata de respostas biológicas que melhoram o processo de cicatrização. A terapia pode ser utilizada como um tratamento autónomo ou combinada com outras modalidades, como a imobilização, o enxerto ósseo ou a terapia com plasma rico em plaquetas (PRP), para maximizar a eficácia. Os protocolos clínicos para tratamentos ESWT relacionados com o osso envolvem normalmente várias sessões (entre 3 e 6) efectuadas com intervalos de 1 a 2 semanas. A intensidade e a frequência das ondas de choque são ajustadas com base na localização do osso e na gravidade da fratura. Ao contrário das opções cirúrgicas, a ESWT não requer tempo de inatividade e tem efeitos secundários mínimos, o que a torna uma alternativa atractiva para os doentes que procuram soluções não invasivas.
Conclusão
A terapia por ondas de choque representa uma fronteira excitante em medicina regenerativa, oferecendo uma alternativa não invasiva e eficaz para a cicatrização óssea. Ao estimular a angiogénese, a osteogénese e os mecanismos de reparação celular, a ESWT acelera a recuperação e aumenta a resistência óssea. Para os doentes com união tardia, fracturas sem união ou lesões ósseas relacionadas com o stress, a ESWT constitui uma via de tratamento promissora com um apoio clínico crescente.